domingo, 29 de maio de 2011

“Lá está ela, mais uma vez. Não sei, não vou saber, não dá pra entender como ela não se cansa disso. Sabe que tudo acontece como um jogo, se é de azar ou de sorte, não dá pra prever. Ou melhor, até se pode prever, mas ela dispensa. Acredito que essa moça, no fundo gosta dessas coisas. De se apaixonar, de se jogar num rio onde ela não sabe se consegue nadar. Ela não desiste e leva bóias. E se ela se afogar, se recupera. Estranho é que ela já apanhou demais da vida. Essa moça tem relacionamentos estranhos, acho que ela está condicionada a ser uma pessoa substituta. E quem não é? A gente sempre acha que é especial na vida de alguém, mas o que te garante que você não está somente servindo pra tapar buracos, servindo de curativo pras feridas antigas? A moça…ela muito amou, ama, amará, e muito se machuca também. Porque amar também é isso, não? Dar o seu melhor pra curar outra pessoa de todos os golpes, até que ela fique bem e te deixe pra trás, fraco e sangrando. Daí você espera por alguém que venha te curar. Às vezes esse alguém aparece, outras vezes, não. E pra ela? Por quem ela espera? E assim, aos poucos, ela se esquece dos socos, pontapés, golpes baixos que a vida lhe deu, lhe dará. A moça – que não era Capitu, mas também têm olhos de ressaca – levanta e segue em frente. Não por ser forte, e sim pelo contrário… Por saber que é fraca o bastante para não conseguir ter ódio no seu coração, na sua alma, na sua essência. E ama, sabendo que vai chorar muitas vezes ainda. Afinal, foi chorando que ela, você e todos os outros, vieram ao mundo.”
Caio Fernando Abreu.

domingo, 22 de maio de 2011

Exortação e Advertência
Não te gripes, amiga, não te gripes, que esse tipo de febre não convém, e do amor os sublimes acepipes só noutro fogo se cozinham bem. Poesia Errante - Carlos Drummond de Andrade.

sábado, 14 de maio de 2011

‘’ Uma criança pode contorná-la. As mãos se tornam inúteis, esfolam-se pelas paredes. Eu amei o sangue desde que provei o seu. O mundo passa pela minha cabeça, mas não é o céu, é claro. Não lembro de mais nada. Ah, como fui jovem um dia! Ela estava quente. Foi então que eu saí da maldade. Parei de gritar. Eles disseram que eu era razoável. Pessoas passam pela ponte. De longe, não são ninguém. Estou na rua, no meio das pessoas. Catorze anos se passaram. Até das mãos dele eu mal me lembro. A dor eu lembro um pouco. De tudo. De nada. Pensarei nesta história como o horror do pensamento. Tenho certeza. Você pensa que sabe, mas não. Nunca... Eu encontro você. Lembro-me de você. Esta cidade foi feita para o amor. Você foi feito na medida do meu corpo. Quem é você? Você está me matando. Eu tinha fome. Fome de infidelidade, de adultério, de mentiras e de morrer. Desde sempre. Eu sabia que um dia você cairia sobre mim. Eu o esperava com impaciência sem limite. Calmamente. Devore-me. Deforme-me à sua imagem, para que ninguém, depois, possa entender o porquê de tamanho desejo. Nós ficaremos sozinhos. A noite não acabará. O dia não nascerá mais para ninguém. Nunca. Nunca mais. Enfim. Você ainda está me matando. Você me faz bem. Prantearemos o dia morto com consciência e boa vontade. Não teremos mais nada há fazer senão prantear o dia morto. O tempo passará, o tempo somente. E virá o tempo em que não saberemos dar nome ao que nos unirá. O nome se apagará aos poucos de nossa memória depois desaparecerá por completo. ‘’ Hiroshima Meu Amor - Alain Resnais
''Sway me, make me, thrill me, hold me, bend me, ease me...'' Sway - Pussycat Dolls

domingo, 8 de maio de 2011

''(...)On me dit que le destin se moque bien de nous, Qu'il ne nous donne rien, et qu'il nous promet tout, Paraît que le bonheur est à portée de main, Alors on tend la main et on se retrouve fou...''
Quelqu'un M'a Dit - Carla Bruni

terça-feira, 3 de maio de 2011

Arraste-se consigo. Pegue isto que lhe aflige e devore. Morda. Mate. Leve o resto de tarde que ainda existe. Traga-se do abismo, amigo. Rafa Bernardino